domingo, 2 de setembro de 2007

Novos bons lides

Nunca na história deste Universo se viu um buraco tão grande. Astrofísicos americanos descobriram um rombo de nada menos que 1 bilhão de anos-luz de diâmetro no tecido do cosmo. Ali não há galáxias, estrelas, gás ou poeira. Nem mesmo a misteriosa matéria escura foi encontrada por lá.
Reportagem da FOLHA DE SÃO PAULO, 25/08/07, 'Astrônomos detectam grande "rombo" no cosmo'. Sugestão da Maria Elisa Lisboa.

A escuridão só não é absoluta porque um pequeno fogareiro está aceso para aquecer a comida. Contando apenas com o tato, o cozinheiro Bohari prepara o jantar. Praticamente ao relento, ele enfrenta, além da falta de luz, o vento incessante que arremessa os finíssimos grãos de areia do Saara contra tudo e contra todos. Bohari é um tuaregue. Filho e neto de nômades, ele trabalha há 36 anos como cozinheiro em expedições de aventureiros que querem conhecer o deserto. Durante dez noites, acompanho sua habilidade em manejar ingredientes, panelas e pratos. De repente, viro para ele e observo: "O deserto não é para as mulheres." Brigando com o lenço que insiste em sair do lugar, descobrir seu rosto e mostrar seu sorriso desdentado, Bohari discorda e responde: "Você está enganada. As mulheres são leves e, como gazelas, parecem voar por essa imensidão. São fortes. É preciso ser forte e corajoso para enfrentar o deserto. As mulheres são assim.
Reportagem Vozes do Deserto, publicada na Marie Claire - agosto de 2007
Sugestão da Elisabete Dala Lana ("Escolhi este lide porque despertou minha curiosidade. Além disso não começa de uma forma convencional e sim com a história de vida de uma pessoa").

Nunca se sabe quando e como as crises financeiras terminam, mas é bem fácil apontar o momento em que as coisas começam a piorar de modo incontrolável. O start das turbulências econômicas pode ser identificado, de uma forma empírica, pela quantidade e intensidade das declarações de otimismo e de mensagens tranquilizadoras emitidas dos gabinetes de autoridades e das mesas de operação dos executivos dos grandes bancos.
Reportagem O RESCALDO NA PERIFERIA - Brasil: Os discursos são otimistas, mas a crise pode trazer prejuízos graves ao país/Carta Capital
Sugestão do Diego Difini ("me chamou a atenção por apresentar a matéria usando de ironia ao mostrar a oposição entre as afirmações oficiais e a atual crise. Além disso, apresenta todo o tema da matéria a partir de um único ponto").

Mal cheguei à redação da revista Senhora, dia 14 de agosto de 1987, e veio a notícia: Cláudio morreu. Tomava café da manhã enquanto lia o jornal, e a cabeça reclinou-se lentamente sobre a mesa, como em um gesto meditado de desalento. Faz vinte anos, e a memória mantém intacto o dia aziago. Péssimo para a família, muito unida em torno dele. Paa os amigos, mais numerosos do que se imaginava. Para os leitores e para a imprensa brasileira. Para o Brasil todo, mesmo que não se desse conta disso. E para mim, que tinha nele um irmão, mais velho e mais sábio, sem pieguismo e sem retórica.
Sugestão da Amanda ("a Carta Capital não costuma trazer um lide destacado, mas nessa matéria de Mino Carta sobre a morte de Cláudio Abramo, essa primeira parte está bem diferente do resto do texto, e me pareceu uma introdução bem interessante. Ainda mais com o autor falando em primeira pessoa, o que dá uma intimidade maior, explicitando que tudo isso é da memória do próprio jornalista que escreve").

Sentado na primeira fila de bancos do santuário Dom Bosco, em Brasília, o presidente eleito Tancredo Neves fechou os olhos, baixou a cabeça e levou a mão esquerda à testa, cobrindo o cenho carregado. Parecia o gesto típico de um devotado católico, porém, os que estavam mais próximos a ele perceberam que, por várias vezes, mostrando desconforto, Tancredo levara a mão direita à barriga por cima do paletó escuro, num disfarçado gesto de dor. Os mais atentos poderiam ter notado, ainda, a dificuldade com que levantara, minutos antes, para subir alguns degraus e ler uma passagem da Bíblia.
Outra sugestão da Amanda ("um lide da revista "Aventuras na História", de um texto sobre a morte de Tancredo Neves. É interessante por fazer uma descrição quase literária do momento em que o "quase-presidente" se sentiu mal, o que foge bastante dos lides comuns. Quase todas as matérias dessa revista têm lides assim, incomuns e interessantes").

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